Cientistas investigam possível participação de vírus bovino em casos de microcefalia

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Rebanho bovino: BVDV afeta o gado em vários países, causando diarreia, problemas respiratórios, abortos e malformações fetais

Crédito foto: Dreamstime

Autoridades do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde examinam hipótese após detecção de vestígios de BVDV em amostras de fetos humanos com essa anomalia

O zika vírus pode não ser o único vilão associado aos casos de microcefalia. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto (Ipesq), da Paraíba, encontraram traços do vírus da diarreia bovina viral (BVDV, na sigla em inglês) em amostras de tecidos de fetos com microcefalia. Até o momento, acreditava-se que esse micro-organismo atacava apenas os rebanhos. Exames complementares ainda são necessários, mas o achado foi comunicado ao Ministério da Saúde, que enviou equipes à Paraíba para investigar o caso. Representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, já se reuniram com o Ministério da Agricultura para avaliar medidas de proteção do gado.

Da família dos Flavivírus, a mesma do zika, o BVDV afeta os rebanhos bovinos em vários países, causando diarreias, problemas respiratórios, além de abortos e malformações fetais como a artrogripose, uma síndrome que provoca lesões nas articulações. Uma das hipóteses levantadas pelos cientistas e autoridades sanitárias é que, após sua chegada ao Brasil, o vírus da zika possa ter interagido com BVDV, facilitando a entrada dos dois micro-organismos no corpo humano e sua passagem pela barreira placentária, com consequentes danos às células fetais.

Especialistas brasileiros alertam, entretanto, que novos estudos devem ser conduzidos na tentativa de isolar partículas virais viáveis diretamente de amostras de pacientes. “A identificação de ácidos nucleicos ou de peptídeos correspondentes ao BVDV não é suficiente para confirmar a transmissão deste vírus, pois vários reagentes e insumos utilizados em biologia molecular são contaminados com produtos desses micro-organismos durante a sua manufatura”, afirma Renato Santana de Aguiar, professor-adjunto do Laboratório de Virologia Molecular, no Departamento de Genética do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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