Análise estatística reforça suspeita de transmissão do zika por via sexual

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Mulheres e zika vírus: para efeito de comparação, probabilidade de elas serem diagnosticadas com dengue é apenas 30% maior do que entre os homens

Crédito foto: Equipe Micro in Foco

Infecções são 90% mais frequentes em mulheres do que em homens, sugerindo contágio pelo sêmen

Um estudo conduzido por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas e da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e publicado pela plataforma bioRxv, de compartilhamento de estudos científicos ainda não revisados por profissionais independentes, reforça a hipótese de transmissão do zika vírus por relações sexuais. Durante a epidemia recente de zika no Rio de Janeiro, iniciada em 2015, de um total de 29.301 casos suspeitos, 20.315 notificações envolviam mulheres, ante apenas 8.986 registros de pacientes do sexo masculino. Para efeito de comparação, durante o mesmo período foram reportados 102.754 casos de dengue, sendo que 56.449 vítimas eram mulheres e 46.305 homens.

Mesmo corrigindo o viés associado aos exames realizados em gestantes, há 90% mais casos registrados entre mulheres do que em homens em idade sexualmente ativa (15 a 65 anos), prevalência que não se repete antes ou depois dessa faixa etária. “Nós documentamos um crescimento massivo de zika entre mulheres, na comparação com os homens”, escreveram os autores. Para os pesquisadores, uma possível explicação estaria na transmissão do vírus de homens para mulheres por meio do sêmen.

Uma segunda hipótese seria a de que as mulheres vão mais vezes ao médico do que seus pares do sexo masculino. Para verificar essa teoria, os autores compararam a proporção dos casos de dengue entre homens e mulheres em 2013 e em 2015. Nos dois anos, a probabilidade de uma mulher ser diagnosticada com dengue foi 30% maior do que entre os homens. Mas, no caso da febre zika, as mulheres em idade sexualmente ativa têm uma probabilidade 90% maior de ter a doença do que os homens. “O vírus ativo da zika já foi isolado do sêmen mais de três semanas após o início dos sintomas, o que aumenta enormemente o período de transmissão a mulheres suscetíveis. Por outro lado, sem transmissão sexual e na ausência de um viés observacional favorecendo as mulheres, nós esperaríamos uma incidência igual em todas as idades”, afirmam os autores.

Dez países – Argentina, Canadá, Chile, França, Alemanha, Itália, Nova Zelândia, Peru, Portugal e Estados Unidos – têm relatos de casos de zika que só poderiam ser explicados por transmissão sexual. Nenhum caso de transmissão de mulher para homem foi documentado.

O jornal The New York Times repercutiu o estudo com especialistas norte-americanos. Anthony S. Fauci, diretor do National Institute of Allergy and Infectious Diseases, disse que os achados são ‘impressionantes’ e demandariam uma análise mais aprofundada, opinião compartilhada por John T. Brooks, dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC), que considerou os números ‘intrigantes’. Já o bioestatístico Donald A. Berry, da Universidade do Texas, questionou as conclusões da pesquisa brasileira. Para ele, por causa do surto de microcefalia em gestantes, o temor das pacientes do sexo feminino em relação à doença é muito maior, o que as leva com mais frequência ao médico e poderia justificar a prevalência dos diagnósticos entre elas. “Este viés é tão forte que poderia facilmente explicar diferenças muito maiores do que 60%”, declarou ele ao jornal.

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