Casos de zika em gêmeos confundem pesquisadores
Em geral, irmãos univitelínicos compartilham a microcefalia ou a ausência da doença, enquanto os fraternos têm destinos diferentes entre si. Mas novos casos vêm desafiando essa lógica
Gêmeos frequentemente são objeto de estudo de cientistas porque as suas similaridades genéticas permitem observar semelhanças e diferenças na origem e evolução de doenças. No caso da zika, analisar por que um irmão desenvolve microcefalia e o outro não pode ajudar a esclarecer como o vírus atravessa a placenta e se há características genéticas capazes de tornar um feto mais ou menos resistente à infecção.
Até recentemente, os gêmeos afetados pela zika pareciam seguir um padrão: entre irmãos idênticos, a microcefalia tende a atingir os dois bebês. Já no caso de gêmeos fraternos, o destino das crianças costuma divergir. “Há seis conjuntos de gêmeos fraternos em que um gêmeo tem microcefalia, enquanto o outro parece não ter sido afetado”, afirmou a Dra. Mayana Zatz, geneticista e bióloga molecular da Universidade de São Paulo, em entrevista ao jornal The New York Times. A explicação habitual para essa diferença era que, como os gêmeos idênticos compartilham a mesma placenta, são afetados da mesma forma pelo vírus da zika. Já entre os gêmeos fraternos, que costumam ter placentas separadas, o vírus pode atingir apenas um dos fetos.
Entretanto, um novo caso rompeu esse padrão. Trata-se de gêmeos fraternos, nascidos de placentas separadas, em que ambos os irmãos apresentaram microcefalia e outras sequelas da infecção.
Uma das teorias para explicar o caso é que o vírus da zika pode cruzar ambas as placentas, mas diferenças genéticas entre os irmãos influenciam a possibilidade de os bebês reagirem de forma igual ou diferente ao vírus.
Para testar essa hipótese, o laboratório da Dra. Mayana, na USP, coletou sangue de gêmeos afetados e não-afetados e está cultivando células cerebrais originadas a partir de células-tronco. O objetivo é verificar quais dessas células se mostrarão suscetíveis à infecção pelo vírus da zika. Isso ajudaria a verificar se, de fato, alguns gêmeos podem ter maior predisposição genética à infecção.
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