Estudo desvenda como vírus oropouche se replica nas células

MAT. 02 VÍRUS OROPOUCHE. Fábricas virais OROV derivam das membranas de Golgi. OPÇÃO 01

Vírus Oropouche: micro-organismo ‘sequestra’ Complexo de Golgi

Crédito: Plos Pathogens

Pesquisadores da USP explicaram estratégia desse micro-organismo da família Peribunyaviridae, que causa doença com sintomas parecidos aos da dengue

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) revelaram a estratégia utilizada pelo vírus oropouche, transmitido pelo mosquito Culicoides paraenses, popularmente conhecido como borrachudo ou maruim, para se replicar nas células humanas.

Os resultados do estudo, que teve a colaboração de cientistas do Hospital Universitário de Tübingen, na Alemanha, e foi publicado no periódico científico PLOS Pathogens, indicam que, após invadir a célula, o patógeno “sequestra” a organela conhecida como complexo de Golgi, transformando-a em uma espécie de fábrica de vírus. Para isso, o oropouche recruta complexos proteicos da célula hospedeira chamados ESCRT (complexo endossomal necessário para o transporte de proteínas), que têm a capacidade de deformar a membrana da organela, permitindo a entrada do genoma viral.

Em notícia publicada no site da Agência Fapesp, Natalia Barbosa, doutoranda na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e uma das autoras do artigo, afirmou que “essa forma de sequestro do complexo de Golgi, por meio do uso de proteínas ESCRT, nunca havia sido demonstrada para nenhum outro vírus”. Segundo ela, trata-se de “uma descoberta que aponta novos alvos a serem explorados na tentativa de barrar a infecção”.

De acordo com o orientador do trabalho, Luis Lamberti Pinto da Silva, professor na FMRP-USP, há pouco conhecimento sobre os mecanismos de replicação dos vírus da família Peribunyaviridae, à qual pertence o oropouche. “São patógenos importantes do ponto de vista da saúde pública. No Brasil, apenas o oropouche causa doenças, mas em outras regiões do mundo também são endêmicos o vírus da encefalite de La Crosse e o Crimeia-Congo, causador de febre hemorrágica. Há também membros dessa família que causam doenças em gado”, afirmou à Agência Fapesp.

Para desvendar os mecanismos de replicação do oropouche, os pesquisadores realizaram experimentos in vitro com uma linhagem de células HeLa, a mais antiga e mais usada em laboratórios, derivada de células de um tumor de colo de útero humano.

Por meio dos experimentos, foi possível identificar que o vírus é capaz de infectar neurônios de camundongos e hamsters. Segundo Silva, “aparentemente, o oropouche é capaz de infectar diversos tipos celulares, ou seja, consegue interagir com diferentes receptores encontrados na superfície das células humanas. Mas ainda não são conhecidos quais são os receptores usados por nenhum membro da família Peribunyaviridae”.

O trabalho coordenado por Eurico Arruda, membro do Centro de Pesquisa em Virologia da FMRP e coautor do artigo, agora tenta reproduzir o experimento com células nervosas humanas.

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