Morre Isaac Roitman, professor emérito da UnB, aos 86 anos

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O professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) Isaac Roitman morreu aos 86 anos. Muito querido na capital, Isaac também era pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e membro da Academia Brasileira de Ciências. A causa da morte ainda não foi divulgada.

Roitman nasceu em Santos (SP), em 1939. Ele cursou odontologia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, de 1959 a 1962. Durante esse período, se interessou pela microbiologia. Em 1963, mudou-se para a capital carioca, para fazer o curso anual de especialização em microbiologia no Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Depois, ele foi convidado a fazer doutorado no Laboratório de Fisiologia Microbiana. Isaac conquistou o título de doutor em 1967.

O professor deu início à carreira profissional em 1964, na UFRJ. Ele tornou-se professor-assistente, cargo que ocupou até 1969, e professor adjunto da mesma universidade, de 1969 a 1974.

Roitman ingressou na UnB em 1972, como professor adjunto visitante. Ele permaneceu nessa função até 1974, quando ainda trabalhava na UFRJ. “Naquele ano, tive que me decidir. Não aguentava mais o ritmo. Fiquei com a UnB”, contou o professor ao Correio em 2017. Na Universidade de Brasília, ele assumiu a missão de criar o Laboratório de Microbiologia.

A convite de Darcy Ribeiro, o professor assumiu a direção do Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense. “O Darcy queria fazer lá o que havia sonhado para a UnB. E me disse que eu tinha total liberdade”, relatou Roitman, em 2017.

Na pesquisa, o professor destacou-se nos estudos sobre a fisiologia de microrganismos, especialmente protozoários tripanosomatídeos. Ele publicou mais de 60 artigos científicos em periódicos indexados, editou livros e contribuiu com capítulos em diversas obras. Roitman também contribuiu para a formação de novos pesquisadores, tendo orientado dezenas de dissertações de mestrado e teses de doutorado.

O professor Isaac também era articulista do Correio Braziliense. No mais recente artigo, publicado no dia 24 de fevereiro, ele defende o investimento e o avanço em mobilidade para garantir equidade e justiça educacional.

“A mobilidade, no contexto educacional, refere-se à capacidade de estudantes e profissionais de se deslocarem entre diferentes ambientes de aprendizado, seja físico, seja virtual. Esse conceito abrange não apenas a locomoção entre instituições de ensino, mas também a flexibilidade de acessar conteúdos educacionais de qualquer lugar, a qualquer momento”, escreveu o professor, no artigo intitulado Mobilidade na educação.

Em outro texto publicado em 2022, o professor questiona o que é ser feliz e discorre sobre esse sentimento. “Aprendi que a palavra felicidade, deve ser usada no plural. Existem inúmeras formas de felicidade. Não é por acaso na canção de aniversários, a palavra é usada no plural (muitas felicidades, muitos anos de vida)”.

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Ainda não há informações sobre o velório e sepultamento.

Luto

Cristovam Buarque, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB) e ex-ministro da Educação, lamentou a morte de Isaac e exaltou o legado deixado por ele. “O Brasil perdeu um grande cientista, uma mente arguta e um coração justo. Os amigos perderam um companheiro solidário e com imenso senso de humor. Certamente fará falta. O Correio perdeu um dos seus melhores colunistas: Isaac Roitman”, pontuou.

A diretora da Faculdade de Comunicação da UnB, Dione Moura, esteve com o professor no hospital ontem e relembrou, emocionada, a trajetória e a importância de Isaac para a ciência: “Avisei a equipe (médica) quem era aquele senhor ali para a UnB e para o Brasil, que dessem atenção e prioridade. A UnB não larga os seus”.

Em nota, a Universidade de Brasília afirmou que Isaac Roitman era referência na ciência e na educação. “Dedicou sua vida à pesquisa, à formação de novas gerações e à construção de políticas públicas para o avanço do conhecimento no Brasil”, frisa a UnB.

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) se solidarizou com os familiares e amigos de Isaac e ressaltou que ele foi um “incansável pensador do sistema de ensino brasileiro em seus diferentes níveis”. “Mesmo aposentado formalmente da sala de aula desde 1995, Roitman continuou ativo nas universidades, nas agências de financiamento, na administração e no debate público, contribuindo com ideias para o Brasil almejar dar o salto necessário na qualidade de sua educação”, citou a organização.

Isaac Roitman era membro da Academia Brasileira de Ciências desde 1996 e fez parte de outras sociedades científicas, tendo sido diretor da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência entre 1991 e 1993 e presidente e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Protozoologia de 1993 a 1997.

“Isaac Roitman foi um grande pensador que batalhou até o fim pelo Brasil que queremos. Lutou pela ciência e pela educação, especialmente a infantil e de jovens, não só universitários. Batalhou incansavelmente pelos direitos humanos e pela equidade. Esse foi o Isaac Roitman que tive o privilégio de conhecer”, afirmou a presidente da ABC, Helena Nader.

Luiz Davidovich, ex-presidente da ABC, também se manifestou. “Roitman foi um representante magnífico do ideal humanístico dos fundadores da UnB. Era essencialmente multidisciplinar, um grande cientista com visão social”.

José Geraldo, ex-reitor da UnB, afirmou que Roitman era um espírito nobre e um homem raro. “Sou profundamente grato a sua contribuição ao meu reitorado (2008-2012). Participou e dirigiu o Conselho da Revista Darcy, então criada,  integrou a Comissão Organizadora das celebrações dos Cinquentenários de Brasília e da própria UnB (2010 e 2012)”, citou.

Aldo Paviani, professor da UnB e amigo de longa data de Roitman, disse estar muito entristecido com o falecimento dele. “Deixo de ter, lastimavente, um fraterno amigo e a ciência, em especial a Universidade, um grande pesquisador e professor e um brilhante divulgador científico. Um escritor muito lido na imprensa como o Correio Braziliense. Que Deus o tenha em seus braços”, disse.

A professora da UnB Olgamir Amancia Ferreira descreveu Roitman como um humanista comprometido e engajado na luta por uma sociedade sustentável, por uma educação transformadora e por uma comunicação verdadeiramente formativa.

“Intransigente na defesa da ciência a serviço da vida foi, sem dúvidas, alguém que fará muita falta. Sentiremos saudades de ouvi-lo falando de suas memórias, que são as memórias das lutas dos democratas”, frisou Olgamir.

Nísia Trindade descreveu o professor como um “amigo querido, cientista brilhante e humanista incansável. Os dois se conheceram quando ela era presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em meio ao encontro anual de pesquisadores de doença de Chagas, em que Isaac era uma das grandes lideranças.

“Com o tempo, o convívio se transformou em uma amizade marcada por aprendizado e admiração. Isaac era uma inspiração, não apenas por sua inteligência e compromisso com a ciência, mas pela generosidade com que compartilhava conhecimento e incentivava novas gerações”, destacou Nísia.

Leia a nota da UnB na íntegra:

A Universidade de Brasília (UnB) lamenta a morte do professor emérito Isaac Roitman. Referência na ciência e na educação, Isaac Roitman dedicou sua vida à pesquisa, à formação de novas gerações e à construção de políticas públicas para o avanço do conhecimento no Brasil.

Nascido em Santos (SP), em 1939, Isaac Roitman ingressou na UnB em 1972, como professor adjunto visitante. Em 1974 tornou-se professor titular, atuando na consolidação da pesquisa e da pós-graduação na instituição. Foi diretor do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM) e um dos criadores do Núcleo de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília (n-Futuros/CEAM), além de decano de Pesquisa e Pós-Graduação e coordenador de diversas iniciativas acadêmicas e institucionais. Sua atuação foi decisiva para o fortalecimento da iniciação científica e do pensamento estratégico sobre o futuro da educação.

Formado em Odontologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Isaac Roitman obteve doutorado em Microbiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Realizou pós-doutorados em renomadas instituições internacionais, como Haskins Laboratories/Pace University (EUA), Hadassah Medical School da Hebrew University (Israel), University of Kent at Canterbury (Reino Unido) e University of Sussex (Reino Unido), consolidando uma sólida carreira científica.

Na pesquisa, destacou-se nos estudos sobre a fisiologia de microrganismos, especialmente protozoários tripanosomatídeos. Publicou mais de 60 artigos científicos em periódicos indexados, editou livros e contribuiu com capítulos em diversas obras. Também se dedicou à formação de novos pesquisadores, tendo orientado dezenas de dissertações de mestrado e teses de doutorado.

Além da UnB, o professor atuou em diversas instituições de ensino e pesquisa no Brasil. Foi um dos criadores da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), membro da Academia Brasileira de Ciências, pesquisador emérito do CNPq e um dos coordenadores do Movimento 2022-2030 – O Brasil e o Mundo que Queremos. Além disso, recebeu reconhecimentos importantes, como a Medalha Nacional do Mérito Científico.

A UnB manifesta sua solidariedade à família, amigos e toda a comunidade acadêmica neste momento de luto.

(crédito: Acervo/Correio Braziliense)

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/ensino-superior/2025/03/7078465-morre-isaac-roitman-professsor-emerito-da-unb.html