Estudos mostram destruição de células cerebrais pelo zika vírus

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Bebê com microcefalia: estudos demonstraram predileção do zika vírus pelo sistema nervoso central

Crédito foto: Governo do PE

As pesquisas, conduzidas de forma independente, trazem novas pistas sobre como o micro-organismo provoca malformações cerebrais em bebês

Dois estudos laboratoriais publicados no começo de março trouxeram novas pistas sobre como o zika vírus provoca malformações cerebrais em bebês. As pesquisas, conduzidas de forma independente uma da outra, mostram que este micro-organismo infecta e destrói células-tronco neuronais.

Para observar os possíveis efeitos do vírus sobre o cérebro em desenvolvimento, cientistas da Johns Hopkins University, em Baltimore, e da Florida State University em Tallahassee expuseram células progenitoras neuronais – células cerebrais imaturas – ao vírus da febre zika. Três dias após o contato, 85% dessas células foram infectadas, relatam os autores no periódico Cell Stem Cell. A título de comparação, o micro-organismo infectou menos de 10% de células renais fetais, de células-tronco embrionárias e de células pluripotentes induzidas (células adultas reprogramadas como células-tronco) – o que demonstra a predileção do vírus pelas células do sistema nervoso.

Segundo os autores desse estudo, primeiro o zika vírus ‘sequestra’ as células progenitoras neuronais. Depois, ele usa a estrutura celular para se replicar, o que ajuda o micro-organismo a se espalhar rapidamente. A partir daí, as células infectadas passam a crescer mais devagar e interrompem o ciclo de divisões celulares – algo que poderia contribuir para a microcefalia.

Já na segunda pesquisa, submetida ao periódico Peer J, os neurocientistas Patricia Garcez e Stevens Rehen, do Instituto D’Or para Pesquisa e Educação, no Rio de Janeiro, expuseram o vírus a aglomerados de células-tronco neuronais, chamados de neuroesferas, e organoides desenvolvidos em laboratório, semelhantes a um cérebro humano em desenvolvimento. “Os organoides cerebrais representam excelentes modelos para a investigação de distúrbios de neurodesenvolvimento, uma vez que podem mimetizar, in vitro, várias características da formação do cérebro humano, nos ajudando a desvendar os mecanismos de diversas doenças”, explicou Rehen no site do Instituto D’Or.

Durante o experimento, o vírus rapidamente matou a maioria das neuroesferas. As poucas sobreviventes diminuíram de tamanho ou ficaram deformadas. Os organoides infectados cresceram menos da metade do que deveriam, em condições normais. “Esses resultados sugerem que o zika vírus suprime a neurogênese durante o desenvolvimento do cérebro humano”, escreveram os autores no artigo. Os dois estudos foram destacados no site da revista Science.

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