Micro-organismos funcionam como indicadores da qualidade dos solos

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Uso de antimicrobianos na pecuária: concentração de resíduos dos fármacos no ambiente, na carne e no leite.

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Alterações nas comunidades microbianas do solo são importantes ferramentas para antecipar possíveis alterações nos teores de matéria-orgânica solo, em função do manejo adotado na propriedade agrícola, e seus reflexos na qualidade do solo. Este é o tema da palestra que será proferida pela pesquisadora Ieda de Carvalho Mendes, da Embrapa Cerrados, durante o XXVIII Congresso Brasileiro de Microbiologia, que acontece em Florianópolis entre 18 e 22 de outubro. Nesta entrevista à Micro in foco, a pesquisadora comentou como as análises de atividade enzimática de um terreno podem ajudar a promover um uso mais sustentável do solo.

Entrevista

Por que os micro-organismos podem ser considerados bioindicadores da saúde do solo?

Os microrganismos constituem a parte viva e mais ativa da matéria orgânica do solo, que, como sabemos é o principal componente de fertilidade dos solos tropicais e um importante indicador de qualidade do mesmo. Ocorre que mudanças nos teores de matéria orgânica (aumentos ou reduções) levam anos para serem detectadas. É aí que entram os micro-organismos, atuando como bioindicadores, porque qualquer mudança que afeta a matéria orgânica também afeta os micro-organismos – só que os efeitos na comunidade microbiana podem ser detectados com mais rapidez. Ou seja, ao observar as alterações nos micro-organismos, podemos antecipar que tipo de mudanças ocorrerão na matéria orgânica do solo em função do manejo agrícola adotado na propriedade agrícola: mudanças positivas (aumentos) e negativas (decréscimos). Dessa forma, podemos avaliar se o manejo em determinada propriedade está melhorando ou piorando a qualidade e a saúde do terreno.

Que erros no manejo do solo os micro-organismos podem ajudar a detectar?

Falhas relacionadas ao excesso de revolvimento do solo, ausência de rotação de culturas e baixo retorno de resíduos orgânicos ao terreno. Essas práticas levam, ao longo dos anos, a perdas de matéria-orgânica do solo, principal componente de fertilidade dos solos tropicais.

Como funcionam as análises de atividade enzimática do solo? Como elas podem ajudar a promover uma agricultura mais sustentável?

As enzimas do solo participam das reações metabólicas intercelulares, responsáveis pelo funcionamento e pela manutenção dos seres vivos, e também desempenham papel fundamental ao atuar como catalisadoras de várias reações que resultam na decomposição de resíduos orgânicos (ligninases, celulases, proteases, glucosidases, galactosidases); ciclagem de nutrientes (fosfatases, amidases, urease, sulfatase); formação da matéria-orgânica e da estrutura do solo. Na região do cerrado, as avaliações de atividade das enzimas b-glicosidase e arilsulfatase têm se destacado entre os parâmetros avaliados pela sua sensibilidade, coerência, precisão, simplicidade e custo. No médio prazo, essas análises são as que mais se habilitam a serem utilizadas em larga escala pelos laboratórios de análises de solo.

Quais os principais desafios para a disseminação desse tipo de prática?

As avaliações de microbiologia do solo ainda não são realizadas na rotina dos laboratórios de análise de solo espalhados pelo Brasil. Mas, com os avanços das pesquisas em bioindicadores de qualidade de solo, acreditamos que não está muito longe o dia em que o produtor, além da parte química e física, pedirá a análise dos atributos microbiológicos do solo – sem que para isso o custo da análise de solo se eleve significativamente. Hoje, nosso maior desafio é expandir as tabelas de interpretação dos bionidicadores, para as várias regiões agrícolas do país (já dispomos de tabelas para os latossolos argilosos do Cerrado) e também unificar os procedimentos de amostragem para as análises de química de fertilidade de solo, gerando a amostra FERTBIO.