Biorrefinariasmicroalgais podem tornar produção de combustíveis mais eficiente e sustentável
Até 2018, o Brasil deve ultrapassar os Estados Unidos como líder mundial em produção de bioenergia. Naquele ano, o país deve atingir 17,1 gigawatts (GW) de capacidade instalada dessa modalidade de geração, que hoje está em torno de 11,51 GW. Para chegar a essa marca, entretanto, o Brasil precisaria evoluir no conceito de refinaria integrada, que permitiria aproveitar os resíduos de outra produção para gerar energia ou biocombustíveis capazes de substituir o diesel e até a gasolina.
Uma das linhas de pesquisa mais promissoras nesse sentido é a produção de biocombustíveis a partir de microalgas marinhas naturais ou geneticamente modificadas. Nas usinas de açúcar e álcool, por exemplo,seria possível utilizar a vinhaça – subproduto da produção do etanol – como matéria-prima para a produção de biodiesel de microalgas. Além de esses organismos unicelularescapturarem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, o combustível fabricado por eles não é poluente. Para se ter uma ideia, um hectare de algas consome 5.000 toneladas anuais de dióxido de carbono, o principal vilão do aquecimento global.
Para explicar como funciona esse conceito, Micro in foco conversou com Eduardo Jacob-Lopes, do Departamento de Tecnologia e Ciência de Alimentos da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Durante o XXVIII Congresso Brasileiro de Microbiologia – realizado em Florianópolis, entre os dias 18 e 22 de outubro – ele fará uma palestra sobre biorrefinariasmicroalgais.
Entrevista
Como funcionam as biorrefinarias microalgais?
Elas são sistemas integrados para o uso efetivo da biomassa microalgal, fracionandoeste insumo em diferentes produtos finais, como alimentos, rações, fertilizantes, combustíveis e químicos, de forma similar ao que ocorre nas refinarias de petróleo.
Qual o principal ganho propiciado pela produção de biodiesel a partir de algas, em relação à versão convencional, à base de óleo de soja?
Em teoria, a produtividadeé superior à do biodiesel de oleaginosas em algumas ordens de grandeza. Dizemos ‘em teoria’ pois, em escalas de campo, ainda não foipossível comprovar os dados laboratoriais. No entanto, a produção de biodiesel a partir de algas nãousa terras agriculturáveis, consome menos de água (é possível usar águas residuais) e possibilita a indução da quantidade e tipo de gordura desejados.
Em que estágio se encontra, no Brasil, a produção desse tipo de biodiesel?
Em escala-piloto, com algumas poucas iniciativas, representadas por algumas empresasstartups. A maioria dos projetos refere-se a estudoslaboratoriais.
Qual o papel da pesquisa microbiológica nas biorrefinariasmicroalgais?
O papel é central, já que o biocatalizador destes processos – as microalgas – é um micro-organismo que precisa ser conhecido sob o ponto de vista morfofisiológico, incluindo os aspectos genéticos que irão potencializar as aplicações tecnológicas.
Que oportunidades e vantagens econômicas a adoção desse método produtivode biodiesel poderia trazer ao país?
As oportunidades estão relacionadas à integração entre processos produtivos,
que permitirão um uso mais efetivo dos recursos, como o reuso de excedentes dos processos industriais.