Base digital de dados sobre biodiversidade vai facilitar produção científica brasileira

cientistas brasileiros

Crédito foto:  Daniel Wainstein / Valor

Atualmente, para investigar um determinado grupo taxonômico, um pesquisador precisa fazer um exaustivo levantamento bibliográfico, procurar obras raras – muitas vezes só disponíveis no exterior – e consultar coleções biológicas dentro e fora do Brasil. Mas isso está prestes a mudar, graças à criação do Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr), uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que promete ser o mais completo repositório de informações sobre a biodiversidade brasileira. Essa plataforma digital – que visa a integrar a publicação de dados de coleções biológicas do Brasil e do exterior – já conta com 91 publicadores e aproximadamente 6 milhões de registros de ocorrências de espécies da biodiversidade brasileira. Mas a meta é, até o fim de 2016, contabilizar perto de 9 milhões de registros. Andréa Nunes, coordenadora-geral de Gestão de Ecossistemas da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento, falou à Micro in foco sobre o assunto,que será tema de uma palestra proferida por ela durante o XXVIII Congresso Brasileiro de Microbiologia, que acontece em Florianópolis entre 18 e 22 de outubro.

Entrevista

O que é o SiBBr?

Uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com suporte técnico do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e apoio financeiro do Fundo Global para o Meio Ambiente, o Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr) é o primeiro passo para o Brasil consolidar uma sólida infraestrutura nacional de dados e conteúdos em biodiversidade. Trata-se de uma plataforma online que pretende reunir a maior quantidade de dados e informações existentes sobre a biodiversidade do Brasil. Seu objetivo é apoiar a produção científica e processos de formulação de políticas públicas e tomada de decisões associadas à conservação ambiental e ao uso sustentável dos recursos naturais, por meio do estímulo e facilitação à digitalização, publicação na internet, integração de dados de livre acesso e uso de informações sobre a biodiversidade brasileira.

Que informações podem ser encontrada no sistema? De que forma elas facilitam a produção científica em nosso país?

Com o SiBBr, estamos no caminho para criar o mais completo repositório de informações sobre a biodiversidade brasileira. Ao mesmo tempo que a plataforma visa a integrar a publicação de dados de coleções biológicas do Brasil e do exterior, abrimos espaço para quem quiser depositar a sua própria base de dados. Hoje, por exemplo, já é possível acessar informações como os 200.000 dados digitalizados pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, até o diâmetro de uma árvore, publicado por um pesquisador independente. Ao disponibilizar uma base de dados abrangente, com ferramentas para gestão de coleções biológicas, publicações, qualificação e análise das informações, o SiBBr contribui para subsidiar pesquisas acadêmicas. Até então, quando um pesquisador estudava um determinado grupo taxonômico, era preciso fazer um
exaustivo levantamento bibliográfico, procurar obras raras – muitas vezes no exterior – e consultar coleções biológicas dentro e fora do Brasil. O SiBBr simplifica muito esse trabalho, integrando as informações e melhorando a qualidade dos estudos. A plataforma também permite aos pesquisadores checar, acrescentar, ou mesmo corrigir, as informações ali depositadas. Desde antes do lançamento do portal do SiBBr e do explorador de dados de ocorrências de espécies (http://gbif.sibbr.gov.br/explorador/pt/busca), em novembro de 2014, trabalhamos intensamente no desenvolvimento e adaptação de processos que permitam a digitalização, publicação na internet, integração e uso de dados e informações sobre a biodiversidade brasileira. Neste momento, contamos com processos e ferramentas que permitem a publicação de dados de ocorrências, listas de espécies e dados ecológicos associados com eventos de coleta de informação.

Quantas instituições já participam do SiBBr? Qual a meta de vocês para o alcance do sistema?

A implementação do SiBBr baseia-se em uma rede colaborativa de instituições e atores que geram, transformam e consomem informações sobre a biodiversidade brasileira. Hoje já temos 91 publicadores, como o Museu Paraense Emílio Goeldi, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, o Ministério do Meio Ambiente, o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, a Fundação Oswaldo Cruz e o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente, o SiBBr já está com uma base de aproximadamente 6 milhões de registros de ocorrências de espécies da biodiversidade brasileira. Mas nossos registros não param de crescer e nossa meta é, até o fim de 2016, disponibilizar perto de 9 milhões de registros de ocorrência de espécies a partir de coleções biológicas no Brasil e no exterior.

Existem experiências semelhantes em outros países? Quais são as grandes referências internacionais nessa área?

O SiBBr atende a uma recomendação da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é um dos países signatários, no que concerne à integração e disponibilização de informações sobre biodiversidade. O projeto é associado ao Sistema Global de Informação sobre Biodiversidade (GBIF, na sigla em inglês), que soma mais de 570 milhões de registros de espécies provenientes de 766 instituições. O GBIF é a maior iniciativa multilateral de acesso virtual a informações biológicas de aproximadamente 60 países. Assim, com o SiBBr, o Brasil integra o maior esforço global para conhecer melhor a biodiversidade do planeta e oferecer gratuitamente as informações existentes. Além disso, o SiBBr trabalha em cooperação direta com outros países que também estão investindo em plataformas de livre acesso aos dados sobre biodiversidade, como Canadá, Colômbia e Uruguai. O sistema também integra o i3B – Infraestrutura Ibero-americana de Informação sobre Biodiversidade, uma plataforma estratégica de colaboração e comunicação científica, com foco na gestão e desenvolvimento sustentável dos países ibero-americanos.

Qual a diferença entre o SiBBr e o projeto da rede brasileira de coleções?

O SiBBr é um repositório de dados e informações sobre a biodiversidade brasileira. A publicação de dados no SiBBr atende a requisitos da legislação brasileira, como a Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/11) e a Política Nacional de Meio Ambiente (6.938/81), entre outras, e às resoluções do Conselho Nacional de Biodiversidade (CONABIO) sobre divulgação de informações provenientes de coleções biológicas. Por outro lado, é importante destacar que o SiBBr não substitui os bancos de dados existentes e tem como objetivo trabalhar em conjunto com todas as redes que agregam informações biológicas. Instituições e pesquisadores podem escolher quais informações, e em que momento, serão integradas ao sistema.

Qual será o maior ganho, para o país, da estruturação desse sistema, com um alto nível de participação dos vários centros de pesquisa?

“Conhecer para conservar” é um conceito intrinsecamente ligado à conservação da natureza. Ao dar acesso a um amplo banco de dados e informações sobre a biodiversidade brasileira, o SiBBr torna-se ferramenta essencial para o aprimoramento de pesquisas acadêmicas e políticas públicas que visem ao uso sustentável dos recursos naturais, à manutenção dos ecossistemas brasileiros, à mitigação e adaptação às mudanças climáticas, à gestão adequada dos recursos hídricos e tantos outros temas que envolvem informações biológicas. O grande ganho do projeto é disponibilizar dados e informações que possibilitem a construção de uma sociedade sustentável.