Micro-organismos intestinais auxiliam remédios na quimioterapia
Enterococcus hirae e Barnesiella intestinihominis ativam a resposta imune das células T no combate ao câncer, melhorando os efeitos da ciclofosfamida
Duas espécies de bactérias habitam o intestino humano ativam células imunológicas que estimulam a eficácia de uma droga anticâncer comumente prescrita, relata uma pesquisa francesa publicada no início de outubro no periódico Immunity. O estudo atribui um novo papel a Enterococcus hirae e Barnesiella intestinihominis – o de ativar a resposta imune das células T no combate ao câncer, melhorando os efeitos da droga quimioterápica ciclofosfamida. Além disso, essa resposta imune ativada por micro-organismos foi associada a maiores períodos de sobrevivência sem progressão da doença em pacientes com cânceres avançados de pulmão e ovário tratados com quimioimunoterapia.
Estudos anteriores já haviam mostrado que alguns micro-organismos intestinais podem promover o crescimento de tumores, enquanto outros podem proteger contra o câncer. Na nova pesquisa, Mathias Chamaillard, diretor de pesquisas do Centro para Infecção e Imunidade de Lille e outro autor sênior, Laurence Zitvogel, do Instituto de Cancerologia Gustave Roussy Cancer Campus mostraram que as bactérias E. hirae e B. intestinihominis, orquestram os efeitos terapêuticos anticâncer da ciclofosfamida, uma droga quimioterápica imunossupressora usada para tratar uma grande variedade de tumores.
Usando modelos de camundongos, os pesquisadores mostraram que o tratamento oral com E. hirae ativou a resposta antitumor das células T no baço, paralelamente aos efeitos tóxicos diretos da ciclofosfamida sobre o tumor, reduzindo seu crescimento. Por outro lado, o tratamento oral com B. intestinihominis conseguiu um efeito similar ao promover a infiltração das células T em vários tumores murinos.
Em seguida, os pesquisadores analisaram a resposta das células T sanguíneas de 38 pacientes com câncer ovariano ou pulmonar avançado tratados com quimioimunoterapia. Eles concluíram que a memória das respostas imunes específicas contra E. hirae e B. intestinihominis permitiu prever uma maior sobrevivência sem progressão da doença, que é o período de tempo durante e após o tratamento que um paciente convive com o câncer sem que ele piore.
Em estudos futuros, os cientistas planejam identificar quais metabólitos bacterianos ou moléculas imunomoduladoras auxiliam os efeitos da ciclofosfamida. “Responder essa questão pode permitir melhorar a sobrevivência dos pacientes com câncer tratados com ciclofosfamida pela suplementação com drogas derivadas de bactérias, em vez de micro-organismos vivos”, afirma Chamaillard.
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