Congresso Brasileiro de Microbiologia 2023 | Resumo: 1114-1 | ||||
Resumo:A resistência bacteriana a antibióticos é atualmente uma das principais preocupações da saúde pública e na clínica humana e veterinária. A falta de eficácia em tratar infecções comuns causadas por patógenos resistentes resulta em falhas terapêuticas, com consequente aumento na taxa de mortalidade. Nesse contexto, a abordagem de "Saúde única" considera a interconexão entre a saúde humana, animal e meio ambiente. Levando em conta esse cenário, é relevante investigar a hipótese que aves selvagens em ambientes remotos, como é o caso dos pinguins antárticos, podem oferecer um panorama valioso sobre a resistência a antibióticos em animais selvagens sob pouca ou nenhuma influência humana. O objetivo deste estudo foi analisar a resistência fenotípica a antibióticos de bactérias oriundas de amostras intestinais de pinguins antárticos. Foram analisados 57 suabes cloacais e 53 amostras de fezes de pinguins antárticos do gênero Pygoscelis, de pinguineras das Ilhas Shetlands do Sul (Ilha Livingston, Ilha Pinguim e Ilha Rei George) em dezembro de 2017. As amostras foram inoculadas em caldo Brain Heart Infusion (BHI) e incubadas a 37°C por 24 horas. As bactérias isoladas foram cultivadas em ágar BHI contendo antibióticos em concentrações pré-estabelecidas conforme o CLSI (2017): ampicilina (16 µg/ml), eritromicina (8 µg/ml), estreptomicina (500 µg/ml), tetraciclina (16 µg/ml) e vancomicina (32 µg/ml). Das 57 amostras de suabes analisadas, apenas amostras de P. antarcticus apresentaram crescimento bacteriano na presença de algum antibiótico. Duas amostras apresentaram crescimento bacteriano na presença de eritromicina (3.5%), sendo Baccilus cereus identificado por Maldi-TOF e Niallia circulans por sequenciamento do RNAr 16; sete amostras apresentaram crescimento bacteriano em tetraciclina (12%), sendo todos isolados identificados como Escherichia coli; e nove, em ampicilina (15%), sendo todos isolados identificados como Klebsiella pneumoniae (por Maldi-TOF). Cabe observar que a resistência à ampicilina é intrínseca às cepas de Klebsiella pneumoniae. Nas análises de fezes não houve nenhum crescimento bacteriano na presença de antibióticos. As amostras que apresentaram crescimento bacteriano em tetraciclina e ampicilina foram coletadas de P. antarcticus situados em pinguineras na Ilha Rei George. Essa observação é relevante, pois a ilha abriga diversas bases científicas de países signatários, além da presença acentuada de turismo na ilha. Dada a ampla utilização da tetraciclina em diversas áreas, como clínica, pecuária e aquicultura, os achados preliminares indicam uma prevalência maior de bactérias resistentes à tetraciclina em pinguins próximos a estações científicas, sugerindo assim um reflexo da influência antrópica. Palavras-chave: Antibióticos, pinguins antárticos, resistência bacteriana Agência de fomento:FAPERGS |