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Congresso Brasileiro de Microbiologia 2023
Resumo: 1056-1

1056-1

A INFLUÊNCIA DA PLASTISFERA NO MICROBIOMA DE TARTARUGAS-VERDES (Chelonia mydas LINNAEUS, 1758), NITERÓI, BRASIL.

Autores:
Filipe Berbeti Rangel (UFF - Universidade Federal Fluminense) ; Hugo Emiliano de Jesus (UFF - Universidade Federal Fluminense) ; Katariny Pereira dos Santos (UFF - Universidade Federal Fluminense) ; Henrique Fragoso dos Santos (UFF - Universidade Federal Fluminense) ; Beatriz Guimarães Gomes (IPAL - Projeto Aruanã/Instituto de Pesquisas Ambientais Littoralis)

Resumo:
Os materiais plásticos se popularizaram em diversos setores da indústria por serem baratos, leves e versáteis, tendo sua produção aumentada na década de 50 e impulsionada cada vez mais até os dias de hoje. Contudo, o descarte desses objetos vem sendo feito de forma incorreta, o que leva ao seu aparecimento e acúmulo em diversos locais. A presença de materiais plásticos nos oceanos já representa um problema de contaminação crônica, agravado pelo fato desses resíduos se degradarem em pedaços de diversos tamanhos, dando origem a partículas menores conhecidas como microplásticos. Essa ampla gama de tamanhos, afeta a vida marinha de diferentes formas, seja pelo emaranhamento em resíduos maiores, pela ingestão desse material ou até mesmo por este proporcionar uma superfície propícia ao crescimento de patógenos microbianos. Nesse sentido, a plastisfera é definida como um micro-habitat, onde resíduos plásticos criam um ambiente favorável à formação de biofilme, servindo assim de hotspot para bactérias patogênicas, metais pesados e até mesmo genes de resistência a antibióticos (ARGs). Em virtude do uso indiscriminado de antibióticos, vem crescendo a resistência bacteriana a esses medicamentos, o que representa uma preocupação não apenas em termos de saúde pública, mas também a nível ambiental. Organismos marinhos são susceptíveis a mais essa influência antrópica, já havendo relatos da presença de genes de resistência a antibióticos em tartarugas marinhas. Esses animais muitas vezes ingerem resíduos plásticos de forma direta, quando intencionalmente se alimentam desses elementos por confundi-los com recursos alimentares, ou indireta, quando os resíduos estão aderidos a sua fonte de alimento, como aglomerados de algas, por exemplo. Porém, ainda não foi elucidado como esses poluentes combinados a patógenos e ARGs podem afetar animais que fazem sua ingestão, nesse sentido as tartarugas se mostram como um ótimo modelo para entender melhor essa interação. Assim, o presente estudo tem como objetivo investigar a aparição de possíveis patógenos e ARGs em tartarugas marinhas da espécie Chelonia mydas, além de verificar se a plastisfera estaria carreando tais bactérias e genes para o microbioma desses animais. Para tanto, foi realizada a coleta de amostras de swab cloacal de tartarugas-verdes durante a captura intencional realizada pelo Projeto Aruanã na Praia de Itaipu em Outubro de 2022, além de amostras de água do mar, alga e plástico, seguida pela extração de DNA dessas amostras e o sequenciamento da região variável V4 - V5 do gene 16S rRNA. Com o intuito de observar a abundância de genes de resistência a antibióticos nas amostras, foi utilizada a técnica de PCR quantitativa em larga escala para múltiplos genes de resistência. Os resultados indicaram que o bacterioma das tartarugas apresentou mais similaridade com a comunidade presente nas amostras de plástico do que com a microbiota presente nas amostras de algas e da própria água. Os Filos Proteobacteria e Cyanobacteria foram os mais abundantes em todas as amostras e dentre os 10 táxons mais abundantes, quatro estão inseridos na família Flavobacteraceae, que apresenta grande relação com a aparição de patógenos e ARGs. Com isso, foi possível observar que os resultados apontam os resíduos plásticos como possíveis carreadores de patógenos para o microbioma de organismos que fazem a sua ingestão, como é o caso das tartarugas-verdes.

Palavras-chave:
 16S rRNA, microplástico, resistência a antibióticos