Congresso Brasileiro de Microbiologia 2023 | Resumo: 889-1 | ||||
Resumo:Durante a pandemia da COVID-19 a disseminação de bactérias multirresistentes (B-MDR) foi acentuada pelo uso indiscriminado de antimicrobianos de amplo espectro. Entre as infecções associadas a B-MDR destacam-se as infecções do trato urinário (ITU), que poderiam estar presentes em pacientes positivos ou negativos para SARs-CoV-2 atendidos especialmente em unidades de terapia intensiva (UTI) exclusivas ou não para COVID-19. Assim, considerando que ainda são limitados
os dados sobre a presença de B-MDR isoladas nas UTI-COVID em comparação as UTI-ADULTO (atendimento de pacientes adultos negativos para SARs-COV-2), o objetivo desse estudo foi avaliar o antibiograma das bactérias isoladas em uroculturas de pacientes hospitalizados nas UTI-ADULTO e UTI-COVID de um hospital ensino no sul do Brasil. Foi realizado um estudo observacional e transversal, a partir dos dados dos laudos laboratoriais de uroculturas positivas de pacientes internados em ambas UTIs no período de out/2019 a dez/2022. Os dados foram coletados através do Sistema de Gestão Hospitalar e Ambulatorial do Sistema Único de Saúde (GSUS) e software EpicenterTM. A identificação e o antibiograma das bactérias foram realizados pelo equipamento automatizado BD-PhoenixTM, sendo a pesquisa de carbapenemases realizada pelo método Reação em Cadeia da Polimerase-Multiplex-PCR para detecção dos genes blaKPC, blaNDM, blaIMP, blaVIM, blaOXA-48 e blaSPM. De um total de 147 pacientes, 99 isolados bacterianos foram identificados sendo 40 na UTI-ADULTO e 59 na UTI-COVID. Em ambas as UTIs, os bacilos Gram-negativos (BGN) predominaram com 67% (66/99), sendo Klebsiella pneumoniae a mais frequente (32/66), seguido de Pseudomonas aeruginosa (12/66) e Acinetobacter spp. (9/66). Apenas 33 cocos Gram-positivos (CGP) foram recuperados nas duas unidades, destacando-se nas duas UTIs, Enterococcus faecalis (20/33) com 100% dos isolados sensíveis à vancomicina. Mais de 80% BGN demonstraram resistência à ceftriaxona, ciprofloxacina e levofloxacina. Quanto aos carbapenêmicos, verificou-se uma importante diferença em relação à K. pneumoniae entre as duas UTIs. A grande maioria (75%) dos isolados recuperados de K. pneumoniae
de pacientes da UTI-COVID eram resistentes aos carbapenêmicos enquanto na UTI-ADULTO a resistência foi de 40%. Ainda, apenas durante a pandemia da COVID-19, em 21/66 BGNs foram detectados os genes blaKPC e/ou blaNDM. Desses 21 isolados, 17 foram detectadas na UTI-COVID,
sendo 2 K. pneumoniae blaKPC, 6 K. pneumoniae blaNDM, 1 P. aeruginosa blaKPC e 2 P. aeruginosa blaNDM, 1 P. aeruginosa blaSPM. Dos 4 isolados detectados na UTI-ADULTO, 3 eram K. pneumoniae blaNDM e 1 K.pneumoniae blaKPC. Ainda, surpeendentemente, 5 isolados carreadores de blaKPC e blaNDM concomitantemente foram detectados exclusivamente na UTI-COVID, sendo 4 de K.pneumoniae e 1 de P.aeruginosa. No período anterior a pandemia, não foram encontrados registros de isolados carreadores de genes de carbapenemases. Nossos resultados evidenciaram uma grande discrepância no número de isolados resistentes, principalmente, aos carbapenêmicos entre as duas UTIs no período pandêmico. Por isso, salientamos a importância de projetos de vigilância epidemiológica para auxiliar não só na escolha da terapia antimicrobiana, mas também na elaboração de medidas para reduzir adisseminação de microrganismos resistentes, particularmente em períodos tão críticos como o da pandemia.
Palavras-chave: infecções do trato urinário, unidades de terapia intensiva, COVID-19, resistência bacteriana Agência de fomento:CAPES |