Congresso Brasileiro de Microbiologia 2023 | Resumo: 876-1 | ||||
Resumo:A esporotricose é uma doença infectocontagiosa saprozoonótica que acomete principalmente os tecidos cutâneo e subcutâneo de humanos e animais. Essa enfermidade é causada por fungos do complexo Sporothrix sp. que estão presentes no solo e em material orgânico em decomposição. O fungo S. brasiliensis tem ganhado notoriedade por ter se adaptado muito bem ao felino e apresentar característica endêmica e zoonótica no Brasil. Este resumo tem por objetivo relatar a experiência inicial do Centro de Bem-Estar Animal (CBEA) do município de Esteio-RS no enfrentamento da esporotricose animal e a caracterização do perfil dos animais acometidos no município. Coletaram-se, entre maio de 2022 a julho de 2023, dados que permitiram caracterizar o perfil animal mais afetado, tratamento e local onde o animal vive. O primeiro caso de esporotricose felina registrado pelo CBEA ocorreu em março de 2021, em uma fêmea de aproximadamente dois anos. Recomendou-se ao tutor o tratamento do animal com o antifúngico itraconazol manipulado, mas não houve resposta clínica satisfatória, culminando no óbito do animal. Em 2022, o CBEA passou a monitorar novos casos de forma passiva, e novas ocorrências foram registradas nos meses de maio e junho, porém os felinos foram submetidos à eutanásia conforme resolução do Conselho Federal de Medicina Veterinária n° 1000 de 2012, uma vez que o CBEA não dispunha de medicação ou estrutura de isolamento. Nos meses seguintes iniciou-se a política de enfrentamento da esporotricose no município pela aquisição de itraconazol de formulação comercial humana, utilizando a dose de 100 mg por animal, com êxito no tratamento. Em novembro de 2022 foi inaugurado o setor de isolamento, permitindo o tratamento dos animais com maior qualidade e biossegurança. Atualmente, todos os casos de esporotricose animal são registrados em uma base de dados própria e os animais são atendidos pelos médicos veterinários do CBEA. Os animais errantes ou comunitários são avaliados para determinar se apresentam condições clínicas para iniciar o tratamento ambulatorial. Os animais com tutor portador de cadastro único ativo recebem a medicação gratuitamente pelo município para tratamento domiciliar. Quando o animal encontra-se com a doença em estágio avançado e muito debilitado, é submetido à eutanásia. No total foram registrados 87 casos de esporotricose animal no município. Todos os animais registrados foram felinos, machos (76%) ou fêmeas (24%), não castrados (83%) ou castrados (17%), com tutor ou responsável (46%), comunitários (31%) ou errantes (23%), diagnosticados com esporotricose de forma clínica (32%) ou por meio de exame laboratorial (68%). Com relação ao tratamento, foram avaliados quanto à cura clínica (17%), em tratamento (48%), sem retorno para o tratamento (6%), óbito durante o tratamento (16%) ou eutanasiados (13%). O bairro com maior ocorrência de casos de esporotricose felina foi o Parque Primavera. Estes dados apresentaram um comportamento esperado e já relatado em outros municípios brasileiros. A definição do cenário epidemiológico possibilita o mapeamento das áreas de risco e direciona o gestor em saúde na determinação das áreas prioritárias para o desenvolvimento das políticas públicas de prevenção e controle desta zoonose. Novos trabalhos são necessários para determinar a abrangência da doença em humanos e animais no município, e se a política adotada atualmente é eficaz para o controle da disseminação da doença e surgimento de novos casos. Palavras-chave: Centro de bem-estar animal, Esporotricose, Epidemiologia, Sporothrix sp., Felinos Agência de fomento:Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente de Esteio/RS |