Congresso Brasileiro de Microbiologia 2023 | Resumo: 618-1 | ||||
Resumo:Em função da alta disponibilidade de água e nutrientes, o leite cru possui uma microbiota autóctone heterogênea, composta por diferentes grupos de micro-organismos. Esta microbiota apresenta relações complexas, como competição por nutrientes, produção metabólitos microbianos, intercâmbio de elementos genéticos, além da produção de compostos bioativos. As Bactérias Ácido Láticas (BAL) apresentam relevância em virtude de seu dinamismo para sobreviver e interagir no ambiente lácteo, controlando inclusive, microrganismos patogênicos em algumas situações, o que justifica a realização de pesquisas que explorem seu potencial biotecnológico. Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi isolar BAL autóctones de leite cru e avaliar o potencial antagonista dos isolados contra Staphylococcus aureus . Os isolados de BAL foram obtidos a partir de uma amostra de leite cru de tanque de expansão, proveniente de propriedade leiteira do Distrito Federal, submetida à diluição decimal em solução salina 0,85%, e semeadura em profundidade em ágar Man, Rogosa & Sharpe (MRS). As placas foram incubadas a 35°C por 72 horas, em jarra de anaerobiose, e colônias macroscopicamente distintas foram purificadas em ágar MRS e caracterizadas por coloração de gram, características morfológicas e teste de catalase. A avaliação do potencial antagonista foi realizada pela metodologia spot-on-the-lawn, onde placas contendo ágar MRS modificado com 0,5% de dextrose foram adicionadas de 20 µL dos isolados de BAL na superfície, de modo que cada placa contivesse três pontos de isolados de BAL a serem testados, e um ponto para o inóculo do controle positivo de Lactobacillus sakei ATCC 15521, com incubação a 35°C por 24 a 48 horas. Em seguida, cada placa recebeu uma sobrecamada de oito mililitros de caldo BHI, acrescido de 75% de ágar bacteriológico contendo inóculos de 3,0 x 105 UFC/mL de S. aureusATCC 25293. Posteriormente, as placas foram incubadas a 35°C por 24 horas e avaliadas quanto à formação de halos de inibição ao redor das dos pontos de BAL e a atividade antagonista foi demonstrada pela presença de halo de inibição ≥ 1mm. A pesquisa na amostra de leite cru resultou em 20 isolados distintos, dos quais 10 foram selecionados, por apresentar características morfotintoriais de cocos Gram-positivos, catalase negativa, compatíveis com o grupo BAL. A presença de halos de inibição contra S. aureus 25293 foi observada para oito isolados (80%), com diâmetros variando entre 2 a 4mm. Este resultado indica a presença e/ou produção de substâncias antagonistas pelos isolados de BAL, capazes de inibir a multiplicação de S. aureus nas condições testadas in vitro, sugerindo que isolados de leite cru possam ser utilizados para o controle deste micro-organismo. O perfil antimicrobiano de cada BAL pode influenciar o tamanho do halo de inibição, que é bastante variável entre relatos da literatura, especialmente pela diversidade de substâncias antagonistas produzidas. Dentre os componentes inibitórios de BAL, as bacteriocinas são relevantes por apresentarem mecanismo de ação específico sobre a parede celular de bactérias Gram-positivas, o que pode justificar inibição observada no estudo. Conclui-se assim que, a exploração de BAL com atividade antagonista deve ser estimulada, possibilitando o desenvolvimento de ferramentas biotecnológicas inovadoras para o controle de microrganismos patogênicos, bem como para a avaliação do potencial e viabilidade de seu uso em diferentes segmentos. Palavras-chave: atividade antagonista, bactérias ácido láticas, leite, antimicrobianos, biotecnologia Agência de fomento:CAPES, CNPq e FAPEG |