Congresso Brasileiro de Microbiologia 2023 | Resumo: 591-1 | ||||
Resumo:Na interação entre Microbiologia e estudos de patrimônios culturais, as igrejas centenárias são inseridas como locais onde a presença de fungos com expressivo potencial biodeteriogênico pode causar alterações nas relíquias devocionais que ornamentam os templos religiosos e problemas de saúde aos usuários e religiosos. Nesse ínterim, objetivou-se identificar a contaminação fúngica em relíquias devocionais presentes em uma igreja histórica datada de 1877, no município de Fortaleza, Ceará. O monitoramento mensal foi realizado de outubro/2022 a março/2023 em 4 relíquias, sendo elas esculturas e quadros em alto relevo. As coletas das amostras fúngicas foram realizadas em áreas das relíquias que
apresentavam crescimento visível de colônias fúngicas e em pontos que são diariamente tocados pelos visitantes, sendo esses: pés, mão, cabeça e manto. Para isso, foram friccionados swabs estéreis, por aproximadamente 30 segundos na relíquias e em seguida colocados sob agitação em solução salina estéril a 0,85%. As amostras foram levadas ao Laboratório de Microbiologia da Universidade Estadual do Ceará – LAMIC/UECE e semeadas pela técnica do tapete em placas de Petri, contendo o meio de cultura Ágar Batata Dextrose (Himedia ® ), e
incubadas a 25 – 27 °C por até 7 dias, realizando-se observações macroscópicas diárias. Ao verificarmos o aparecimento de colônias fúngicas, realizou-se a contagem global das mesmas e sua identificação em nível de gênero se baseou na análise conjunta de características macro e micromorfológicas. Os dados foram analisados e expressos em porcentagem de presença dos gêneros fúngicos. O somatório do quantitativo fúngico das relíquias devocionais foi de
600 UFC, com a maior frequência fúngica ocorrendo em um quadro de madeira e gesso com 203,5 UFC. 17 gêneros fúngicos foram identificados, com destaque para: Aspergillus (100%), Penicillium (100%), Chrysonilia (100%), Exophiala (75%), Fusarium (75%), Acremonium (50%), Cladophialophora (50%) e Bipolaris, Cokeromyces, Cladosporium, Nigrospora, Mucor, Rhizopus, Scopulariopsis, Scedosporium, Neoscytalidium e Trichoderma tiveram uma presença de 25% nas relíquias. A elevada presença dos gêneros Aspergillus, Chrysonilia e o Penicillium, presumivelmente é motivada por suas distribuições ubíquas. O surgimento de
fungos se deu nas superfícies das relíquias constituídas de madeiras, verniz, tinta e gesso, tal fato pode ser associado à presença de celulose e hemicelulose na estrutura das relíquias e que esses compostos se constituem em importante fonte nutricional para os fungos. Pondera-se que, além da biodeteriorização causada pelos fungos terem impacto negativo nas igrejas como um patrimônio cultural, esses achados fúngicos podem produzir alterações estéticas nas relíquias, causando a descoloração e formação de manchas, sendo necessário ações de mitigação, como a utilização de tintas contendo biocidas na sua composição, e a utilização de antifúngicos como o brometo de metila, óxido de etileno e fluoreto sulfúrico, que inibem o crescimento de fungos filamentosos presentes em bens patrimoniais. Portanto, a diversidade de fungos encontrada pode ter potencial tanto biodeteriogênico nas relíquias, como patogênicos aos que frequentam esse ambiente, sendo importante o monitoramento periódico do ponto de vista patrimonial e de saúde pública. Palavras-chave: Aerobiologia, Fungos Anemófilos, Patrimônio Religioso |