Congresso Brasileiro de Microbiologia 2023 | Resumo: 440-1 | ||||
Resumo:Marte possui uma atmosfera muito fina e permissiva a radiação ultravioleta (UV), o que pode ser prejudicial a formas de vida que poderiam eventualmente prosperar em sua superfície. De maneira geral, estudos se concentram na análise dos efeitos de doses agudas de radiação UV em microorganismos, ou seja, são rapidamente expostos a níveis elevados de radiação durante um experimento (Paulino-Lima et al., 2013). No entanto, isso não reflete as condições naturais. O Sol é a fonte da radiação UV que atinge o planeta durante o período diurno do dia, que em Marte tem uma duração de 24h 39m 35s (também chamado de Sol) (Patel et al., 2002). Isso representa uma exposição crônica que consiste na mesma quantidade de radiação aguda, mas ao longo de um período mais longo, no caso, o período diurno de um Sol.
Visando esclarecer essas diferenças, o objetivo deste trabalho é comparar a sobrevivência da bactéria modelo radioresistente Deinococcus radiodurans a exposições agudas e crônicas em algumas faixas de radiação UV. A exposição crônica é realizada no Mars Irradiator, um aparato de irradiação desenvolvido pelo nosso grupo de pesquisa, com lâmpadas UV e um software que simula a variação e a exposição de radiação de um Sol marciano, considerando diferentes parâmetros planetários, como latitude e estação do ano (Caribe Filho et al., 2019). Enquanto isso, o experimento agudo é realizado em equipamentocom diferentes lâmpadas UV com fluências fixas. Em ambos os casos, simulamos um Sol equinocial marciano (na latitude 0°), ou seja: o microorganismo é submetido a 639 J/m2 de UV-C (254 nm), 6327 J/m2 de UV-B (312 nm) e 10557 J/m2 de UV-A (365 nm) (Patel et al., 2002), separadamente e em doses combinadas, sendo posteriormente avaliadas as unidades formadoras de colônias (UFC) por incubação em meio TGY (Paulino-Lima et al., 2013).
Durante os experimentos, observou-se que a sobrevivência do microrganismo foi diferente sob irradiação aguda e crônica de UV. Essa observação está provavelmente ligada ao tempo disponível para a D. radiodurans reparar possíveis lesões causadas pela radiação (Cox & Battista, 2005). Durante a dose aguda, há um rápido acúmulo de danos que pode levar à morte celular, enquanto na dose crônica, a célula tem mais tempo para agir e corrigir os defeitos causados pela exposição UV antes que eles se acumulem. Assim, este trabalho foi capaz de demonstrar que doses agudas podem não necessariamente representar a realidade que um microrganismo deve suportar para sobreviver na superfície de Marte, contribuindo para expandir nossa compreensão da habitabilidade do ambiente da superfície marciana.
Palavras-chave: Radiação Ultravioleta , Marte, Resistência, Deinococcus radiodurans , Astrobiologia Agência de fomento:N |