| Congresso Brasileiro de Microbiologia 2023 | Resumo: 438-1 | ||||
Resumo:Atualmente, tem-se observado o uso demasiado de antimicrobiano para propósitos não clínicos, especialmente em criações de animais. Além de prevenir e controlar doenças oportunistas, a utilização desses antimicrobianos como aditivos na agropecuária garante desenvolvimento ótimo dos animais, aumentando o rendimento da produção. Por outro lado, isso tem-se tornado um grande problema por induzir a seleção de bactérias resistentes, especialmente aquelas da ordem Enterobacterales, impactando diretamente na eficácia da terapia antimicrobiana. O presente estudo teve como objetivo pesquisar isolados de enterobactérias resistentes à ceftazidima na microbiota intestinal de suínos criados em uma fazenda da região de Sacramento-MG. Para tanto, foram coletados swabs retais de 33 suínos representativos da população criada na fazenda. As amostras foram transportadas em meio Cary Blair para o Laboratório de Microbiologia onde foram cultivadas em ágar MacConkey acrescido de 1 g/L de ceftazidima (CAZ). As espécies de enterobactérias isoladas foram identificadas fenotipicamente e caracterizadas quanto ao antibiograma pelo método do disco de difusão, tendo a expressão de beta-lactamases de espectro estendido (ESBL) avaliada por DDS. Foram recuperadas bactérias capazes de crescer no meio contendo CAZ em 28 amostras (84,8%). Destas, Escherichia coli foi a espécie predominante, sendo observada em 23 das 28 amostras positivas. Apenas um isolado foi identificado como Pantoae agglomerans e outros quatro como bacilos gram-negativos não-fermentadores. De acordo com o antibiograma, 16 E. coli não foram sensíveis à CAZ, enquanto que as outras 7 foram sensíveis, mas capazes de crescer no meio seletivo, visto que a concentração de CAZ adicionada no MacConkey (1 g/L) está na faixa de sensibilidade, segundo EUCAST 2023. Além da resistência a CAZ, foram observados baixos níveis de sensibilidade a outros beta-lactâmicos como: cefalotina e amoxicilina (0% de sensibilidade), cefepime (21,7%) e cefotaxima (43,5%). Além disso, a expressão de ESBL foi detectada em 17 das 23 E. coli identificadas, justificando a baixa sensibilidade aos antimicrobianos listados acima e a alta sensibilidade observada para outros beta-lactâmicos, tais como cefoxitina, amoxicilina com clavulanato, aztreonam, imipenem, ertapenem e meropenem. A alta prevalência de E. coli produtoras de ESBL encontrada no presente estudo, pode ter sido decorrente da utilização de amoxicilina como suplemento alimentar dos animais, que, segundo o protocolo de alimentação da fazenda, foi administrada uma vez ao dia, junto à ração dos leitões com 30 a 40 dias de vida, na proporção de 100 g para 500 Kg de ração. Além da resistência das E. coli produtoras de ESBL aos beta-lactâmicos, foram observadas também resistência a antimicrobianos de outras classes (sulfametaxazol com trimetoprima, tetraciclina e ciprofloxacino), sugerindo a coexistência de outros mecanismos de resistência junto à expressão de ESBL. Entretanto, antimicrobianos como nitrofurantoína, ácido nalidíxico, levofloxacino, gentamicina e amicacina foram capazes de inibir as bactérias investigadas, indicando alta sensibilidade frente a estes fármacos. Desta forma, estes resultados alertam para o risco da utilização de amoxicilina como aditivo nas rações de suínos, podendo favorecer a seleção de E. coli produtoras de ESBL resistentes a diversos antimicrobianos, beta-lactâmicos ou não. Palavras-chave: Enterobactérias, Microbiota retal, Resistência à ceftazidima, Suínos, ESBLs Agência de fomento:Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) | |||||