Congresso Brasileiro de Microbiologia 2023 | Resumo: 373-1 | ||||
Resumo:A resistência antibiótica é uma séria ameaça à saúde pública mundial. Este problema é agravado devido à disseminação de microrganismos resistentes entre humanos e animais, demandando uma análise mais detalhada no contexto da saúde única, que é um conceito que interliga a saúde humana, animal e ambiental. O aumento de linhagens resistentes pode comprometer a eficácia dos tratamentos e a multirresistência (resistência a vários medicamentos) agrava ainda mais essa questão. Estudos têm evidenciado que esse fenômeno não se limita a humanos e animais domesticados, mas também é encontrado na fauna silvestre. Dentro desse contexto, este trabalho tem como objetivo aprimorar a compreensão do estado da resistência antimicrobiana na fauna local. Para isto, examinamos a presença e o perfil de sensibilidade antimicrobiana de cepas de Escherichia coli (E. coli) isoladas em jaguatiricas (Leopardus pardalis), localizadas no Parque Zoobotânico de Teresina, Piauí. Esta espécie animal foi selecionada devido à sua importância na biodiversidade brasileira e existirem poucos estudos de sua microbiota. Complementarmente, E. coli foi escolhida por ser amplamente distribuída em diversos ambientes e notoriamente capaz de desenvolver resistência a antibióticos, tornando-se um indicador pertinente para a análise da resistência antimicrobiana no meio ambiente. Para atingir o objetivo proposto, foram coletadas amostras fecais de quatro exemplares de L. pardalis, que foram posteriormente semeadas em Hektoen Enteric Agar. Por meio de procedimentos microbiológicos padrão, quatro cepas de E. coli foram identificadas. Utilizando o método de difusão em disco foi avaliado o perfil de sensibilidade destas cepas a 20 diferentes fármacos. A seleção destes antimicrobianos foi feita de maneira a permitir a potencial detecção de fenótipos de resistência do tipo ESBL (Beta-lactamases de espectro estendido), AMPC (Beta-lactamases de AmpC) ou CRE (Bactérias resistentes a carbapenêmicos). Ainda foi avaliada a resistência aos antibióticos polipeptídicos colistina e polimixina B, por meio da técnica de microdiluição em caldo. Nos resultados, observou-se que todas as cepas apresentaram sensibilidade a todos beta-lactâmicos testados, bem como à colistina e a polimixina B. No entanto, identificamos uma cepa multirresistente, apresentando resistência simultânea aos antimicrobianos Sulfazotrim, Tetraciclina e Enrofloxacina. É importante destacar que os animais examinados não estavam sob qualquer tratamento com antibióticos. Este fato é especialmente significativo, pois evidencia a emergência e propagação de resistência antimicrobiana, mesmo na ausência de uso direto desses fármacos. Destaca-se que investigações prévias conduzidas no mesmo local identificaram cepas de E. coli com perfil ESBL em Ursus arctos (ursos), corroborando que a presença de linhagens resistentes não é um evento isolado. Este estudo destaca a importância de ampliar as investigações sobre o perfil de resistência bacteriana na fauna silvestre e reforça a relevância da abordagem de Saúde Única. Até onde sabemos, este é o primeiro relato de uma cepa de E. coli multirresistente isolada de L. pardalis no Brasil, uma descoberta que pode ter implicações significativas para futuras pesquisas na área de resistência a antibióticos. Palavras-chave: animais silvestres, jaguatirica, saúde única, E. coli, multirresistência Agência de fomento:UFPI |