Congresso Brasileiro de Microbiologia 2023 | Resumo: 267-1 | ||||
Resumo:A resistência antimicrobiana é uma preocupação global crescente que afeta a saúde humana e animal. As consequências deste fenômeno podem ser expressas pelas dificuldades terapêuticas das infecções, sem delimitações microbianas específicas e que tem alcançado populações humanas e animais, sejam estas de produção ou companhia. Dentre os modelos microbianos que podem inferir sobre a disseminação da resistência antibiótica, Enterococcus spp. se destacam pela ubiquidade ecológica e propensão à resistência antimicrobiana. Um dos mais importantes mecanismos de resistência adquirido por este gênero se relaciona aos antimicrobianos glicopeptídicos. Cepas de Enterococcus resistentes ao glicopeptideo vancomicina são importantes causas de infecções nosocomiais em todo o mundo. A resistência antibiótica em animais silvestres tem sido alvo de vários estudos que tem denotando o papel que estas espécies podem assumir como sentinelas da disseminação da resistência antibiótica. Nesse contexto, os catetos (Pecari tajacu), animais selvagens nativos do Brasil, que estão sendo cada vez mais criados para fins comerciais, representam um sistema relevante para estudo. Apesar da microbiota de animais de produção e de estimação estarem sendo amplamente estudadas, há uma lacuna de conhecimento considerável sobre a microbiota dos catetos, especialmente no que se refere à presença de agentes zoonóticos resistentes a antibióticos. Isso aponta para a necessidade deste estudo, que visa aumentar a compreensão sobre a resistência antimicrobiana em animais selvagens e o potencial papel desses animais como reservatórios de cepas resistentes de Enterococcus spp. Para isto, foram coletadas amostras fecais de 70 catetos mantidos ex situ na cidade de Teresina - Piauí. O isolamento de Enterococcus spp. envolveu a utilização do Ágar Citrato Azida Tween Carbonato. As cepas bacterianas foram identificadas presuntivamente, utilizando procedimentos microbiológicos padrão e posteriormente confirmadas por espectrometria de massa (MALDI-TOF). A Concentração Inibitória Mínima (CIM) do antibiótico vancomicina foi obtida pela técnica de microdiluição. Foram identificadas 42 cepas de Enterococcus, sendo Enterococcus faecalis (10 cepas), Enterococcus faecium (8 cepas) e Enterococcus hirae (5 cepas) as espécies mais prevalentes. Trinta e sete cepas apresentaram CIM para vancomicina variando de ≤ 1,0 µg/mL a 4,0 µg/mL, enquanto para cinco cepas a CIM obtida foi de 8,0 µg/mL. Segundo os parâmetros estabelecidos pelo BrCAST, CIM superiores a 4,0 µg/mL indicam resistência para este fármaco. As espécies identificadas como resistentes à vancomicina foram E. faecium (três cepas) e Enterococcus gallinarum (duas cepas). Embora a resistência à vancomicina seja uma característica intrínseca das cepas de E. gallinarum, este resultado se torna expressivo para as cepas de E. faecium. Esse micro-organismo comumente possui outros determinantes de resistência que contribuem para a dificuldade terapêutica das infecções e consequentemente com o aumento da letalidade desta espécie. Estes resultados representam a primeira evidência de catetos como hospedeiros de Enterococcus spp. resistentes à vancomicina, com implicações importantes para a saúde humana, animal e ambiental, dentro do conceito de Saúde Única. Nossos achados apontam para a necessidade de mais pesquisas sobre a resistência antimicrobiana na microbiota de animais selvagens, sendo esta uma estratégia para o monitoramento desse fenômeno. Palavras-chave: VRE, glicopeptídeos, animais silvestres, resistência antibiótica, saúde única Agência de fomento:UFPI |