Resumo

Introdução: A infecção do trato urinário (ITU) é caracterizada pela invasão microbiana em qualquer tecido do trato urinário, desde a uretra até o rim. É uma das doenças  infecciosas mais comuns no Brasil, mas as estimativas são escassas quando comparadas com outros países.  A Escherichia coli, um membro da microbiota intestinal normal, é o considerado o principal patógeno, com prevalência variando entre 52 e 82%. A resistência bacteriana é uma preocupação mundial, pois acarreta dificuldades no controle das infecções. Considerando a falta de informações em nosso meio, avaliamos neste trabalho, a prevalência dos microrganismos causadores de ITU e o perfil de susceptibilidade aos principais antimicrobianos de uso na comunidade em Camaçari, Bahia. Material e métodos: O estudo trata-se de um corte transversal de base laboratorial desenvolvido entre 01 de janeiro e 31 de dezembro de 2009, em uma clínica de saúde da rede privada em Camaçari, Bahia, cuja população foi composta de 4289 pacientes com suspeita de ITU. Foram incluídos no estudo todos os casos de pacientes com urocultura com contagem bacteriana significativa e presença de piúria na análise da sedimentoscopia da amostra de urina. Os casos positivos que tinham solicitação médica para antibiograma foram avaliados quanto ao perfil de susceptibilidade antimicrobiana, através do teste de disco difusão em ágar (Kirby-Bauer) e o teste de triagem para detecção de ESBL foi avaliado através da técnica de aproximação dos discos, utilizando antimicrobianos marcadores e seguindo os critérios de interpretação da CLSI, 2009. Os dados foram armazenados em um banco de dados Smart MedicWare v.2.0.122.08 e a análise estatística através do programa EpiInfo v.3.5.1.Discussão dos resultados: Durante o ano de 2009, identificamos prevalência de 10,0% (430/4289) de casos positivos para ITU, com maior frequencia entre o gênero feminino (86,5%, 372/430) e, entre estes, maior predomínio na faixa etária de 16 a 46 anos (76,3%; 284/372). O principal patógeno foi E.coli (60,0%; 285/430), seguido de Enterobacter spp. (19,3%; 70/430) e Klebsiella spp. (12,1%; 53/430). Identificamos entre os isolados de E.coli as maiores taxas de resistência aos antimicrobianos: ampicilina (43,0%), sulfametoxazol-trimetropim (39,9%), ciprofloxacino (14,4%) e norfloxacino (11,9%). Foi detectado 0,7% (2/285) de ESBL, sendo estes isolados de E.coli. Conclusão: Nossos dados contribuem para o conhecimento epidemiológico dos principais agentes bacterianos causadores de ITU's e do perfil de susceptibilidade antimicrobiana em nosso meio, ressaltando a importância do monitoramento destas infecções e do direcionamento das terapias e definição de planos e ações voltados para a realidade local.