Resumo

A daptomicina é o primeiro antimicrobiano da classe dos lipopeptídeos cíclicos, aprovado em 2003 nos Estados Unidos e em 2005 no Brasil, para o tratamento de infecções de pele e de tecidos moles causadas por cocos gram positivos multirresistentes. O mecanismo de ação se dá por uma mudança estrutural induzida pelo cálcio extracelular a níveis séricos que permite a interação da cauda lipofílica com a membrana citoplasmática de bactérias sensíveis, formando canais iônicos que promovem o efluxo dos íons de potássio da célula. A rápida despolarização da membrana provoca a interrupção de atividades celulares vitais como a síntese de DNA, RNA e de proteínas, resultando em uma rápida morte celular sem lise. Determinou-se o perfil de sensibilidade à daptomicina de 50 amostras de Staphylococcus aureus resistentes a meticilina (MRSA), isoladas no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná no período entre julho de 2005 e maio de 2007 e, 50 isolados de Enterococcus spp vancomicina resistentes (VRE), de genótipo vanA, coletadas entre dezembro de 2000 e outubro de 2004. As amostras foram submetidas ao teste de sensibilidade da concentração inibitória mínima (CIM) de daptomicina utilizando Etest® segundo a metodologia descrita pelo fabricante. Os resultados seguiram critérios de interpretação do CLSI, 2010.  Todas as amostras bacterianas testadas apresentaram sensibilidade a daptomicina. A potência (CIM₅₀) e a atividade (CIM₉₀) obtidas foram de 0,19µg/mL e 0,25 µg/mL para S. aureus e, 1,0µg/mL e 2,0µg/mL para E. faecium, respectivamente. A alta sensibilidade pode estar relacionada ao mecanismo de ação inédito da droga e da pouca ou nenhuma utilização na pratica clínica neste período, não havendo, consequentemente, pressão seletiva sobre os micro-organismos testados. O monitoramento contínuo da sensibilidade desta droga é necessário a fim de detectar precocemente o desenvolvimento de resistência.