Neurociência pode melhorar retenção de informações durante as aulas

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Crédito foto: EIA

Conhecer o funcionamento do sistema nervoso e entender como acontecem os processos de aprendizagem e formação de memórias são cruciais para adotar condutas mais eficazes de transmissão do conhecimento durante as aulas. É o que prega Alexandre Rezende, professor do Centro de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências Biológicas da PUC de Campinas. Durante o XXVIII Congresso Brasileiro de Microbiologia, que acontece em Florianópolis entre 18 e 22 de outubro, ele ministra a palestra Neurociência e Educação: transformando o aluno em estudante. Nesta entrevista à Micro in foco, ele falou sobre como melhorar a fixação dos conteúdos de Microbiologia entre os alunos com base nos conceitos neurocientíficos.

Entrevista

Qual a diferença entre a postura de aluno e a de estudante, que o senhor destaca no título de sua palestra?

Na maioria das salas de aula observamos nos últimos anos a presença de pessoas biologicamente ativas ocupando carteiras, mas completamente desanimadas, desinteressadas, agitadas, muitas vezes irritadas e sem nenhuma perspectiva de futuro. Esse tipo de pessoa é o que considero o aluno. O aluno atual é uma pessoa completamente preocupada em terminar logo a escola, passar de ano ou semestre, e completamente obcecado por notas, não pelo conhecimento – ele “estuda” para a prova, não para a vida. Já o estudante é uma pessoa preocupada em adquirir conhecimentos, o que, infelizmente, é o objetivo de uma minoria dos alunos nas escolas e universidades. No Brasil, temos milhões de alunos e pouquíssimos estudantes. Assim, transformar alunos em estudantes é uma tarefa essencial de todo professor/educador e a neurociência pode ajudar muito nesse contexto.

Como os conceitos da neurociência contribuem para aumentar a eficácia do processo de ensino?

A Neurociência fornece informações sobre a organização do sistema nervoso, as bases dos processos de aprendizagem e memória e as descobertas que todos os dias são publicadas, referentes à área da Neuroeducação. Portanto, conhecer o funcionamento básico no cérebro pode ajudar no desenvolvimento de condutas mais eficazes em sala de aula, pois olhamos para o cérebro do aluno e questionamos como podemos estimulá-lo para que o rendimento aumente. O uso da Neurociência em sala de aula não é nova. Ela vem sendo estudada e aplicada desde a década de 70, mas foi nos anos 90 – considerados a década do cérebro – que ela decolou. Um exemplo dessa abordagem seria explorar o que o aluno tem de experiência na sua vida para, a partir disso, inserir novos conhecimentos. Todos nós temos uma memória conhecida como memória de trabalho, utilizada todos os dias para integrarmos os novos conhecimentos que adquirimos com os que já possuímos. Dessa forma, dar uma aula fazendo links entre a realidade do aluno e os novos conhecimentos, por exemplo, facilita a compreensão por parte dele, que automaticamente passa a se interessar mais pelo conteúdo, pois vê um significado no aprendizado. Muitas estratégias neurocientíficas se baseiam nisso.

Por que o ensino da Microbiologia, em particular, pode se beneficiar das técnicas da Neurociência?

A Microbiologia trabalha com muitos nomes, características e vias de ação dos microorganismos que, na sua maioria, são novos para os alunos. Dessa forma, utilizar estratégias neurocientíficas pode facilitar o trabalho e, claro, o aprendizado. O processo de aprendizagem basicamente se vale de três processos básicos: repetir a informação, elaborar essa informação com conhecimentos já existentes e fixá-la. Dessa forma, transmitir o conteúdo de forma motivadora para o aluno, fazendo-o ver a aplicabilidade da informação na sua profissão e dando subsídios para a elaboração ou aprofundamento dessa informação é o primeiro grande passo. A fixação depende de outros pontos e deve-se sempre se destacar a importância de se dormir bem. O sono tem papel importantíssimo nesse contexto. Especificamente, disciplinas como a Microbiologia necessitam que os alunos tenham uma regularidade de estudos e que pensem nesses três processos, que ajudam muito na aprendizagem.

Que mudanças deveriam ser adotadas pelos professores que desejem utilizar os recursos da neurociência em suas aulas?

Acho que o principal ponto seria investir no estudo das bases neurológicas do aprendizado e da memória. Independentemente da área de atuação (Biológicas, Humanas e Exatas), os processos neuronais são os mesmos – o que muda é a forma como estimulamos nosso cérebro, de acordo com a área de atuação. Assim, todo professor deve primeiro ter a vontade de melhorar sua aula e de melhorar o entendimento dos alunos, para aumentar a motivação. A motivação é a base do aprendizado e conhecer os processos neuronais envolvidos auxilia na construção de estratégias melhorarão a atenção, rendimento e aprendizagem.